Dipolo de Meia-Onda e sua eficiência

 



A dipolo ressonante de meia onda é a mais eficiente?  

Qual a vantagem de trabalharmos com a dipolo ressonante? 

Basta a dipolo estar ressonante para eliminar a estacionária?


Para que a potência do transmissor gere o maior sinal possível naquela figurinha que você estava “caçando”, devemos considerar o conjunto formado pelo transmissor, linha de transmissão e antena, sendo necessárias as seguintes condições: 

  1. Casamento de impedância entre o transmissor e a linha de transmissão;
  2. Mínima perda na linha de transmissão;
  3. Casamento de impedância entre a linha de transmissão e a antena;
  4. Balanceamento da antena para evitar retornos de RF que alteram a sua eficiência (isso pode requerer o uso de balun no caso da linha ser desbalanceada);
  5. Máxima eficiência da antena

Vejamos as razões e requisitos para cada item anterior:

O casamento de impedância entre o transmissor e a linha de transmissão é necessário para a máxima transferência de potência do transmissor à linha. Adicionalmente, os modernos transmissores reduzem a sua potência de saída como proteção do seu estágio final quando há o descasamento de impedâncias.

As perdas na linha dependerão do seu tipo, comprimento e frequência de operação, além, obviamente, da sua qualidade. Essas perdas são especificadas por unidade de comprimento e para a condição de não existência de estacionária na linha. A presença de estacionárias aumentará as perdas totais da linha.

O casamento de impedância entre a linha de transmissão e a antena é necessário para a máxima transferência de potência à antena (sua máxima excitação);

A eficiência da dipolo depende do seu diagrama de radiação que, por sua vez, depende basicamente do seu comprimento. Mas existe uma visão frequente de que a dipolo de meia onda é a mais eficiente devido à sua ressonância. Esta é uma explicação simplista que pode levar a um entendimento equivocado.  

Se o critério de eficiência é colocar o maior sinal possível para a mesma excitação da antena, observa-se que, ao se aumentar o comprimento de uma dipolo acima de meia onda, ela até aumenta o seu ganho (dentro de limites). Se subirmos o seu comprimento para um pouco mais de uma onda completa, o seu ganho em relação à meia onda atinge cerca de 3 dB na direção de máxima radiação (duplica a potência do sinal recebido!). A partir daí vai caindo e subindo em lobos que se formam em várias direções com o aumento do seu comprimento, conforme pode ser visto no interessante vídeo de uma aula do Dr Doug Tougaw, PHD da Universidade de Valparaiso, Indiana/USA (https://www.youtube.com/watch?v=7yfN8xJ4n-k).

Ou seja, se considerarmos apenas a dipolo, não é necessariamente na condição de ressonância que você terá mais eficiência de radiação, ou seja, gerar mais campo para a mesma excitação. A grande questão está na excitação da antena quando esta deixa de ser ressonante, condição em que a transferência de potência da linha de transmissão para a antena cai (e logo a sua excitação) ao mudar o seu comprimento ou frequência de excitação.

A máxima excitação só ocorre se a antena apresentar uma impedância resistiva, e essa impedância for igual à impedância característica da linha. E isso acontece quando a antena é ressonante. Daí a popularidade da dipolo de meia onda pois ela é a menor antena ressonante que permite o uso de um cabo coaxial sem estacionária e, portanto, com qualquer comprimento, onde toda a potência desenvolvida pelo transmissor será entregue à antena, descontadas as perdas do cabo.

Na medida em que se afasta da frequência de ressonância da antena, a sua impedância se altera, tanto na parte resistiva quanto pela inserção de uma parte reativa, podendo ser capacitiva se a frequência cai, ou indutiva se a frequência sobe. Essa mudança de impedância gera reflexão e estacionária na linha, reduzindo a transferência de potência do transmissor para a linha e da linha para a antena. E isso reduz a sua excitação e a eficiência de todo o conjunto, não da antena. Não é a antena que perde eficiência, mas, fora da ressonância, ela recebe menos potência!

Podemos corrigir a impedância vista pelo transmissor com um acoplador junto a ele (quando não está dentro dele!), de forma a permitir que o transmissor entregue toda a potência à linha, mesmo com estacionária. Mas a estacionária na linha continua, assim como as perdas inerentes a ela.

Porém, se conseguimos neutralizar a componente reativa apresentada pela antena não ressonante e igualamos a impedância resistiva ao valor da linha de transmissão, teremos a total transferência da potência conduzida pela linha para a antena. E, nesse caso, poderemos ter antenas não ressonantes, mas adequadamente acopladas às linhas de transmissão e com ganhos até superiores à dipolo de meia onda. Esse acoplamento pode ser feito por um circuito acoplador junto da antena.

Pode parecer estranho pensarmos em acoplador junto da antena no caso de dipolos, mas é muito comum em antenas portáteis como as antenas móveis (terrestres, marítimos ou aeronáuticos) ou as antenas de janela com o circuito acoplador na base e o respectivo “contrapeso”. O problema, que torna essa solução pouco popular (ainda) para as dipolos, é que o circuito acoplador precisa ser reajustado quando se altera a frequência.  

 

Em resumo,

a forma mais prática e eficiente de se ter uma antena é a dipolo ressonante de meia onda, cuja impedância resistiva (dependendo da sua altura) seja bem próxima da impedância do cabo coaxial. Pequenos descasamentos das impedâncias da antena e cabo, quer seja em função da altura da antena, quer seja quando se afasta da frequência de ressonância, começam a gerar estacionária que pode ser tolerada dentro de certos limites. Maiores variações podem ser compensadas com o uso do acoplador de antena junto ao transmissor, única e exclusivamente para permitir o transmissor entregar toda a sua potência. As perdas na linha de transmissão continuam a existir. As dipolos não ressonantes, inclusive para operação em várias bandas, podem ser utilizadas de forma eficiente (às vezes mais do que a dipolo de meia onda) se forem usados acopladores entre a linha de transmissão e elas. O mesmo vale para outros tipos de antenas como as verticais, unifilares etc com os respectivos contrapesos.

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6 comentários:

  1. Ola joão bom dia ,tarde ou noite obrigado por dividir seus conhecimentos, será sempre lembrado bem pelo que vejo muitas pessoas são contrarias aos acompladores visto que a estetacionaria continua na antena e nas antenas não recionantes que usa acopladores são mais mais eficiente seria pelo seu comprimento de onda? 73 py1fm juarez

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  2. Grato pelo apoio, Juarez. O campo gerado pela antena depende do seu comprimento (e da potência injetada nela). Se você aumenta o comprimento do fio, o campo vai aumentando na direção de máxima radiação até atingir o seu máximo em um pouco mais de um comprimento de onda. Acima disso, a intensidade começa a cair e formam-se outros lobos de radiação por conta das fases das correntes de cada "pedacinho" da antena. Veja no vídeo que indico no artigo. Ocorre que pra você conseguir injetar a maior potência possível da linha de transmissão pra antena, você deve casar as impedâncias destes elementos (linha e antena). E só nas ressonâncias acontece isso e, mesmo assim, a impedância da antena, ainda que resistiva, pode ser diferente da linha, requerendo um casamento de impedâncias. Neste ponto, a antena de meia onda é prática porque é o menor tamanho com uma impedância em torno dos 50/70 ohm. Porém, se você usa um acoplador entre linha e antena (e não entre TX e linha) você pode acoplar a dipolos maiores que a de meia onda com um pouco de ganho e não tendo acréscimo de perdas no cabo que aconteceria com as estacionárias que ainda existiriam nele, caso o acoplador estivesse junto do transmissor.

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  3. Parabéns Saad! Simples, rápido, objetivo e principalmente elucidativo.

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  4. Ótima matéria simples e direto ao ponto.

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