VISÃO ESTRUTURADA SOBRE RUÍDOS NÃO INTENCIONAIS (aqueles gerados pelo homem)

 

MOTIVAÇÃO

O objetivo desta série de artigos é apresentar uma análise sobre os diversos tipos de ruídos e os possíveis caminhos  para combatê-los. O nosso foco será aqueles gerados pelo homem, denominados oficialmente como ruídos de radiadores não Intencionais.

Ainda que uma das ações mais importantes seja a localização das fontes próximas de ruído pela degradação aumentada na recepção que eles causam, há vários outros aspectos como a influência das antenas, cabos, uso de filtros, baluns etc que merecem ser analisados para uma redução do ruído de uma forma mais ampla. E como o tema é muito extenso, se abrindo em inúmeras frentes de conhecimento e possibilidades, é normal o interessado ficar perdido, ou colhendo dicas específicas sem uma visão global das diversas alternativas, vantagens e desvantagens.

Em vista disto, a proposta destes artigos é dar uma visão introdutória e estruturada do problema, deixando apontadores para o aprofundamento nestas diversas frentes de conhecimento aos interessados.

 

A GERAÇÃO DOS RUÍDOS NÃO INTENCIONAIS

 

Os ruídos, que existem desde o início do rádio, tendem a ser mais severos nas bandas mais baixas, apesar de poderem atingir as faixas mais altas como VHF.

Eles podem ter causas naturais, como os ruídos causados pelos raios ou o ruído galático, e podem ser produzidos pelo homem de forma intencional ou não intencional.

Os ruídos de radiadores não intencionais são velhos conhecidos devido à possibilidade de geração de ruídos por parte das redes de energia elétrica com componentes defeituosos (um problema que, infelizmente, existe até hoje). Porém, os ruídos produzidos pelo homem têm sido, indiscutivelmente, os mais ameaçadores atualmente por poderem ser produzidos também pelos modernos dispositivos eletroeletrônicos que consomem, transformam ou geram energia elétrica, se não atenderem a regras de projeto que limitem as radiações espúrias de energia eletromagnética interferente.

Ou seja, os ruídos podem ser gerados por quase todo equipamento eletroeletrônico moderno por usarem fontes chaveadas, indo das conhecidas lâmpadas e luminárias a LED aos grandes e modernos geradores fotovoltaicos e eólicos de energia elétrica, passando ainda pelos eletrodomésticos, computadores, controladores de todos os tipos etc.

De fato, as fontes chaveadas, necessárias em todos esses dispositivos, são muito mais eficientes, leves e baratas do que as fontes analógicas tradicionais, o que é desejável e uma enorme evolução em todos os sentidos. Mas, como se baseiam na transformação de tensão em frequências muito acima dos tradicionais 50 e 60 Hz e, pior, através de formas ondas riquíssimas em harmônicas, torna-se necessário o cuidado nos projetos de forma a não deixar escapar energia em frequências que interfiram nas telecomunicações.

Na figura abaixo representamos um circuito bem básico da parte transformadora de tensão de uma fonte chaveada, onde podemos ver o circuito de chaveamento, que normalmente funciona em frequência normalmente na casa das dezenas de kHz, alimentando um transformador de pequenas dimensões pela frequência envolvida.



Além da frequência na casa dos kHz, ressalta-se a operação entre corte e saturação (chaveamento) produzindo uma forma de onda riquíssima em harmônicos que podem chegar facilmente aos vários MHz e escapar para os cabos de entrada AC e saída DC desta fonte através das capacitâncias parasitas dos circuitos, principalmente entre os enrolamentos do transformador isolador. São correntes de modo comum como as correntes que percorrem uma dipolo, fazendo com que estes cabos atuem como verdadeira antena dipolo onde um braço é formado pela entrada AC, o outro braço é formada pela saída DC, ambos excitados pela fonte chaveada como um transmissor de interferência diretamente ligado à antena sem uma linha de transmissão. A figura abaixo ilustra o conjunto radiante.



Esse escape pode ser contido a limites aceitáveis com o devido cuidado nos circuitos impressos e fiações internas, assim como através do uso de filtros internos e blindagens que deveriam ser adotados pelo projetista e fabricante.

Também é importante visualizar esse escape indesejável para os cabos para que tenhamos uma ideia de como nós podemos adicionar filtros e blindagens no esforço de se reduzir a geração de interferências por um dispositivo cuja substituição você não possa ou consiga fazer, mas que pode ter a sua radiação espúria reduzida, conforme veremos em outra seção.

 

COMO RESOLVER UM PROBLEMA DE RUÍDO?

 

O ruído é um assunto complexo, pois (i)existem vários tipos, (ii)depende de inúmeros fatores e (iii)o seu combate pode exigir ações diferentes e complementares. Portanto requer o conhecimento em várias áreas, e as soluções (além da localização e substituição das fontes próximas) podem variar conforme o tipo de ruído, a fonte e a distância, como veremos adiante.

 

Inicialmente, é interessante se ter em mente que o problema “ruído” depende de três elementos:



Isso pode parecer óbvio, mas orienta o seu combate pois, muitas vezes, a forma mais prática e econômica é atuar nestas três frentes simultaneamente: Fonte, acoplamento e receptor.

Com base nesta tríade, para se reduzir o ruído pode-se atuar das seguintes formas, muitas delas apontadas ao longo dos nossos artigos ou referências:

 

FONTE:

1) Localizar a fonte e desligá-la ou substituí-la. Se não for possível nem desligar ou substituir, deve-se buscar  reduzir a sua emissão de ruídos. Evidentemente essas ações  são limitadas às fontes próximas à estação.

ACOPLAMENTO:

2) Melhorar a antena (ou usar antenas especiais de recepção);

3) Reduzir a captação adicional de ruídos pelos cabos que compõem a estação (linha de transmissão, cabos de alimentação, aterramento etc);

RECEPTOR:

4) Tratar na recepção com as filtragens modernas: Há vários tipos de filtros para diferentes tipos de ruído, mas nem sempre são suficientes;

5) Tentar cancelar o ruído usando circuito cancelador com uma antena auxiliar. O cancelador pode ser externo ao receptor, mas já começa a existir receptores com essa capacidade como o SDR Duo da SDR Play. É uma solução difícil pois é necessário se obter uma antena auxiliar que capte o ruído mais intensamente do que os sinais (pela proximidade da fonte, p. ex.) e requer um ajuste mais crítico envolvendo ganho e fase para o cancelamento do ruído. Mas pode dar bons resultados se o ruído tiver uma fonte predominante!

Você pode ver o artigo “Dicas sobre Cancelador de Ruído” (https://py1dpu.blogspot.com/p/dicas-sobre-cancelador-de-ruidos.html) em que descrevo em detalhes como eu consegui uma boa eficiência no cancelamento de um ruído gerado pela rede elétrica através de um cancelador que eu dispunha sem uso. Os resultados que obtive podem ser vistos nos vídeos apresentados nos links: 

Resultados em 80m    e    Resultados em 40m

 

Um último e muito custoso recurso que está se tornando mais frequente entre os felizardos com capacidade financeira é transferir a estação para um lugar silencioso e operá-la remotamente.  Neste caso, cabe lembrar que o fato de não se poder desconectar a estação das antenas e cabos externos antes de temporais com raios implica em cuidados e conhecimentos muito maiores no aterramento e proteção destas estações para a minimização do risco de danos no caso de incidências diretas ou próximas de raios.

Recomendo a palestra do Fred, PY2XB sobre estações remotas proferida no Encontro Técnico dos 6 metros ocorrido em 2024 em Botucatu (https://www.youtube.com/watch?v=0Lj5xhFC4zs). 

E aos interessados neste tipo de solução, recomendo a palestra sobre Aterramento e Proteção de Estações Desatendidas (https://www.youtube.com/watch?v=1P0VNmFyZ9I) tendo em vista que o uso de estações remotas  pressupõe que sejam desatendidas, ou seja, não haverá ninguém que possa desconectar antenas e cabos da estação antes de tempestades com raio.

Adicionalmente, no que diz respeito à essa solução de localizar a estação remotamente em local silencioso, há que se lembrar que o fato deste local ser atendido por rede elétrica para a sua alimentação significa que será difícil garantir-se um nível de ruído bem baixo indefinidamente, pois há sempre a possibilidade do  aparecimento posterior de uma  interferência devido a defeito em algum componente na rede elétrica. Mas, sem dúvida, a probabilidade de ruídos cai bastante!

 

CONHECIMENTOS E TÉCNICAS UTEIS PARA O COMBATE AO RUÍDO


Considerando-se as diferentes formas de atuação sobre a fonte, o acoplamento e a recepção, listamos abaixo o conjunto de conhecimentos e técnicas desejáveis para a solução ou redução do problema de ruído.

Isto dará uma ideia da abrangência do problema, assim como apresentará um leque de opções para a atuação, lembrando sempre que estas atuações são muitas vezes complementares, no sentido de que provavelmente não haverá uma solução mágica para o problema, a menos que você tenha a sorte de ser severamente molestado por apenas uma fonte que tenha sido facilmente localizada e eliminada.

Mas a “localização” já requer um conhecimento de instrumental e método que, por si só, é objeto de extenso artigo, enquanto a eliminação envolve um conhecimento técnico da redução da emissão das interferências caso a fonte não possa ser simplesmente desligada ou substituída, além de toda uma diplomacia no trato de pessoas caso a fonte pertença a terceiros. E essa diplomacia, importante em qualquer lugar do mundo, é particularmente estratégica no Brasil onde não temos legislação que restrinja  a emissão de interferências por parte dos eletroeletrônicos (radiadores não intencionais) de uma forma abrangente como nos EUA com a FCC ou na Comunidade Europeia com as suas diretivas.

 Assim sendo, elencamos os seguintes assuntos:

 

1) O conhecimento do tipo de ruído, pois dependendo do tipo de ruído prevalente, técnicas distintas poderão ser empregadas.  Por exemplo, se o seu ruído é impulsivo, a atuação do Noise Blanker do seu receptor poderá ser eficiente.  Ruídos gerados em grandes centros próximos e de propagação por ondas terrestres têm polarização predominantemente vertical, recomendando antenas de polarização horizontal. Apresentaremos os tipos de ruídos e os recursos indicados para a supressão de acordo com esses tipos.

2) As filtragens na recepção, que se constituem em recursos normalmente presentes nos receptores, mas que têm evoluído fortemente em função da crescente tecnologia envolvendo processamento digital. É uma promissora área de análise e exploração.

3) A localização das fontes de ruído: Em muitas situações, o ruído tem uma fonte predominante que, sendo localizado ou neutralizado (explicaremos como) melhora consideravelmente a recepção. Inicialmente é fundamental que se pesquise fontes dentro da própria estação ou propriedade onde se encontra, pois, estatisticamente, a maioria das fontes de ruído se encontra dentro da propriedade.

Localizar estas fontes dentro da própria casa é uma operação bem mais fácil, baseada no desligamento dos disjuntores de cada setor e posterior desligamento de cada dispositivo elétrico dentro do setor que se mostrou gerador do ruído, enquanto se monitora a recepção.

Mas a localização na vizinhança requer o conhecimento de técnicas utilizando antenas portáteis com boa direcionabilidade e receptores também portáteis, dentre outros recursos complementares.  E, no caso da fonte ser gerado por terceiros, torna-se fundamental a diplomacia e bons argumentos para se conseguir a colaboração destes. E lembre-se de pesquisar minuciosamente se a fonte não está na sua própria propriedade para evitar desgastes desnecessários e perda de credibilidade.

4) Neutralização da fonte de ruído: Uma vez localizada a fonte de ruído, se não for possível a retirada ou substituição dela a alternativa será a sua neutralização, ou seja a redução do ruído gerado por ela, o que implica no conhecimento de técnicas como:
  • o rearranjo de cabos,
  • o uso de filtros,
  • o uso de ferrites
  • o uso de blindagens,
podendo ser necessário o emprego simultâneo de todas as técnicas, dependendo do caso.

5) Antenas: O conhecimento sobre as antenas permitirá a escolha de uma antena mais diretiva e menos ruidosa. Mas, atenção, dependendo da situação, parte considerável do ruído é captada por outros cabos como linha de transmissão, linhas de alimentação, aterramento etc, requerendo o conhecimento das técnicas abaixo relativo a estes acoplamentos.

6) Antenas especiais de recepção para as bandas baixas: Como as bandas baixas são mais sujeitas à forte presença de ruídos gerados pelo homem, além da dificuldade de se obter antenas diretivas pelas suas grandes dimensões, um recurso bastante promissor é o emprego de antenas de recepção bastante encurtadas e direcionais para a rejeição de grande parte dos ruídos. 

PORÉM é importante ter em mente que, apesar da melhora da relação sinal ruído obtido pela antena especial de recepção , elas normalmente apresentam uma enorme atenuação pelas suas dimensões reduzidas, tornando fundamental a redução das captações de ruído pelos demais cabos conforme descrito em artigo adiante. Ajuda o uso de um amplificador de baixo ruído entre a antena de recepção e a sua linha de transmissão!

7) Redução das captações secundárias de ruído: Conforme já adiantado no item 5 acima, parte do ruído captado na recepção pode ser captado de “forma secundária” pelos demais cabos como a própria linha de transmissão, alimentação e aterramento da estação. Esses cabos também funcionam como antenas onde, naturalmente, são induzidas correntes de modo comum  que se dirigem externamente aos cabos até alcançarem a antena, injetando o ruído ao sinal por ela captado.

A redução desta “captação secundária” se dá através do uso de:

  • baluns,
  • ferrites,
  • filtros,
  • blindagem
  • cabos e conectores de melhor qualidade;
  • plano de referência de terra na estação conjuntamente com o rearranjo dos seus cabos etc;

Os demais artigos desta seção se propõem a aprofundar um pouco mais os conhecimentos acima elencados.

ESTA SEÇÃO, QUE É BEM LONGA PELA EXTENSÃO DO ASSUNTO, ESTÁ EM PLENA CONSTRUÇÃO. VÁRIOS OUTROS ARTIGOS QUE SEGUEM ESTA PARTE ESTÃO EM ELABORAÇÃO. 

Peço que aguarde e acompanhe.

Muito grato pelo seu interesse.

Fte 73!


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